quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pretos? Velhos?


Sobre Pretos-velhos, pretos e velhos

Fico sempre entusiasmado com a defesa contundente e muito acertada da raça negra, dos valores e direitos fundamentais de resistência e dignidade que evidentemente os pretos-velhos da Umbanda simbolizam, bem como acho valido o chamado a reflexão sobre não tomar as imagens literalmente, e neste ultimo caso é que devo discordar na essência do que foi dito.
Entidades de Luz ou não, almas, espíritos desencarnados não possuem cor de pele, não são desta ou daquela tribo, não usam necessariamente este ou aquele paramento, pelo simples fato de, como bem acreditamos, já haverem encarnado e reencarnado muitas vezes em diferentes lugares e épocas, em diferentes povos e ter aprendido e vivenciado inúmeros e diferentes costumes em seu caminho na Existência.
Se esta ou aquela entidade se utiliza de uma determinada roupagem, característica ou comportamento o faz pela estrita necessidade do trabalho a que se dedica, conforme é possível à sua compreensão da Vida e estagio evolutivo, e pelos vínculos físicos e astrais que grassam estabelecer com o ambiente e com seu cavalo. Evidentemente que um terreiro formado em determinada corrente, com uma egrégora específica manifesta diferentemente as entidades; um médium fulano dará a sua entidade características próprias de sua energia vital desta vida e experiência pessoal de muitas outras já vividas.
Pretos-velhos são entidades que após uma quase eternidade escravos do clico de encarnações atingem a Liberdade e retornam na Umbanda com a missão do serviço e a responsabilidade para com seus muitos companheiros de jornada ainda cativos.
Sua mensagem é não de conformismo mas da compreensão do nosso cativeiro, da aceitação de nossas limitações, como na Desiderata, afim de atingirmos a sabedoria de possuirmos em nós o todo necessário para trilhar nosso caminho e da PACIÊNCIA como verdadeiro instrumento de evolução. A observação da CIÊNCIA DA PAZ para encontrar o eixo de si mesmo, e através disso a perfeita relação com seu ambiente e com o próximo.
Preto-velho não é preto e nem velho, presos ao ciclo de encarnações existem outros que são mais pretos ou mais velhos que muitos pretos-velhos já foram, mas jazem cativos. A Umbanda não tem pressa, a vida não acelera ou retarda nem um único instante por qualquer um, preto-velho na senzala espera o momento do entendimento de cada um pacientemente pitando seu cachimbo, sentado no toco.
Vivemos na nação que mais tarde reconheceu o horror da escravidão e a aboliu, e dela vir a Luz de Entidades apresentadas como pretos, índios e caboclos tem um óbvio simbolismo de igualdade e fraternidade. A vida é mais do que aquilo que vemos e ouvimos, saber ver e ouvir verdadeiramente é um dom, mas também pode ser conquistado pela atenção.
Se assim é posso dizer que a mensagem que a Umbanda trás já habita entre nós desde muito antes das senzalas e navios negreiros, antes das gales e gladiadores e até mesmo antes das pirâmides e das muralhas de Ur, ela grita no mais fundo da natureza humana que anseia voltar a ser livre.

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