sábado, 10 de março de 2012

Considerações sobre uma dita Umbanda Cristâ e os tempos dos Congressos e Primado

Estes textos transcritos aqui são postagens em resposta à alguns amigos que se correspondem comigo em um site de fóruns pela internet.
Só postei aqui minhas respostas, mas o todo da coisa pode ser lido através do link anexo.

Vamos à algumas considerações importantes sobre o que se esta chamando aqui Umbanda Cristã, a mim parece que haja muita confusão sobre o que isto representa, do que foi e do que é hoje.

A referência sobre o Congrasso de Umbanda é a Benjamim Figueiredo, médium do Caboclo Mirim, Dirigente máximo da TEM - Tenda Espírita Mirim, que na época do congresso possuia 37 filiais, dezenas de centenas de médiuns e milhares de assistentes assíduos em suas sessões.
Mais do que uma tentativa de embranquecimento da Umbanda ou despótica tentativa de ditar uma Umbanda cristã e distanciada dos fundamentos africanos, como sugerem alguns, o Congresso de Umbanda veio como uma resposta efetiva à tentativa de setores políticos e religiosos de proibir o culto Umbandista, torna-lo definitivamente ilegal desmobilizar suas lideranças e prender seus líderes.


No Rio de Janeiro havia a clara liderança da TEM como luminar umbandista, tendo em seus quadros membros influentes da sociedade e da política da época, gentes da música, das artes e cultura nacional, o Sr. Benjamim tinha clara consciência disto e após muitas vezes em que foi preso por professar seu credo, ele juntamente com outros que se alinhavam aos preceitos e ética da Escola do Caboclo Mirim uniram-se para se fazer sentir e medir por seus detratores o quanto força e influência tinham.

Várias teses e assuntos foram debatidos, entre eles a afirmação de uma identidade ética evidente que tinham entre sí, afinal as casas congressadas ou eram filiais e sede da TEM ou em esmagadora maioria eram casas de antigos seguidores da TEM ou dos grupos vindos da linha de Zélio de Moraes, médium do Caboclo 7 Encruzilhadas. Entre eles havia claras semelhanças de culto e formas rituais, comungavam uma identidade claramente critã, adimitida a supremacia do Cristo como máxima figura à ser reverenciada, e como é mostrado claramente em qq casa filiada à TEM, "O Médium Supremo", modelo e inspiração para todos.

A afirmação dos valores de um espiritualismo cristão foram naturais e naturais também a análize do que se tinha de material editado para estudo sobre o assunto, a bibliografia espírita-kardecista foi naturalmente tomada como ponto de partida para muitos estudos e até hoje são bibliografia obrigatória das casas da Escola do Caboclo Mirim, mas não para o aprendizado de uma douitrina, mas para estudo e reflexão do que seja o fenômeno mediúnico e das mensagens dos espíritos de luz, na época não havia como hoje a possibilidade de gravar em vídeo uma entidade incorporada falar e ensinar aos seus filhos, muito menos a facilidade de divulgação e propagação das palavras de nossos Pretos-Velhos.

Tempos depois isto veio a determinar a criação do Primado de Umbanda, uma iniciativa de vários dirigentes entre eles Benjamim Figueiredo.

Mas volto para o que acho ser o cerne das confusões, estes grupos reunidos possuiam uma identidade claramente distinta entre sí mas claramente semelhante eticamente.

Não havia a intenção de segregar outros grupos ditos Umbandistas ou espiritualistas, tratava-se de uma afirmação positiva de identidade, uma comum que era evidente, exageros aconteceram, mas devemos entender isto contextualizado em sua época e circunstância, para eles as outras manifestações do movimento Umbandista eram totalmente diversas e éticamente discutíveis, vemos isto hoje na não aceitação do Culto do Daime como manifestação do movimento umbandista, muito embora em tudo e por tudo se assemelhe a nós.

A necessidade de afirmação desta identidade comum trouxe à estes grupos congressados uma força evidenciada e que ajudou muito na flexibilização da legislação e da compreenção do fenômeno Umbandista como algo verdadeiro e representativo que intimidou as tentativas de marginalização do culto umbandista.

Fica difícil falar de algo que ocorreu a mais de 70 anos segundo a ótica de nossos dias, se vamos falar algo do que é a Umbanda Cristã que se analise o que ela é hoje, de como seus líderes encaram o movimenbto umbandista hoje, fora isto estaremos no mínimo cometendo o mesmo erro que se atribui aos dirigentes do Comgresso e do Primado em seu início.

(...)

Concordo com o que vc falou mas em parte, na verdade entendo o que vc diz sobre um suposto embranquecimento da Umbanda, mas sob que ponto de vista? Seria Pai Roberto, preto-velho de Benjamim Figueiredo menos preto-velho? Seria a Umbanda que ele professava desde o advento do Caboclo Mirim em 1920 menos Umbanda? Quantos dos críticos desta corrente ou as linhas diversas que eles seguem ou seguiam existiam na época?

A Escola do Caboclo Mirim é menos Umbanda por não cantar para exu ou mesmo por não ter sessão para estas entidades: baianos, malandros, Zé Pelintras, exus, pomba-giras, ...?

Seria menos Umbanda o sitema de filial por qq motivo, não foi o Sr. Benjamim ou o Caboclo Mirim quem quizeram filiais, mas sim os sacerdotes da TEM que pediram para forma-las, vc viu as fotos que estão em links que postei com a mensagem?

Eram milhares todas as semanas na TEM, tornou-se impossível trabalhar lá, abrir filiais foi a única saida, mas não foi em momento algum determinada pelo comando, os médiuns Abarés da TEM que formaram filiais o fizeram em nome do Caboclo Mirim e as suas entidades se expressaram desta mesma forma, deveria o Caboclo Mirim rejeitar sua abenção e sagração para que seguissem sós ?

Quanto à questão dos rituais ditos afro terem sido abolidos do conceito do que seria Umbanda nos congressos isto tem mais relação com uma miopia que também acomete hoje muitos Umbandistas só que às avessas, e devo dizer que não concordo pessoalmente com nenhuma, como já disse em diversas oportunidades entendo a Umbanda como um movimento criado por seres de elevação inimaginável para dar serviço e ordenar tanto alguns povos espirituais quanto aos homens e mulheres que por sua capacidade mediúnica, variável de pessoa para pessoa e de grupo para grupo, passariam a atuar em harmonia num ideal de elevação planetária, isto não se deu de forma homogênea e nem poderia se-lo pois não é algo que cresce a partir de um pequeno núcleo, mas algo que manifastado de forma múltipla, levando em consideração as características das entidades mentoras, de seus médiuns e das condições de entendimento ético-moral de cada grupo, afinal somos etinicamente diversos.

Se em tempos idos os grupos do Congresso de Umbanda idealizassem uma Umbanda etinocentrista isto é por necessidade de afirmação de seus princípios, algo muito questionável por certo, mas perfeitamente de acordo com as práticas da época, estamos falando das décadas de 40, 50 e 60.

O próprio Tancredo tempos depois cometeu o mesmo engano quando disse que não era Umbanda sem os rituais afro, outra afirmação de identidade etinocentrista, igualmente questionável mas genuina em essência se nos postar à análize por sua ótica.

A Escola do Caboclo Mirim se intitula a Escola da Vida e se baseia em grande parte na contemplação da natureza e na lógica da criação e da relação entre as forças criadoras e manutentoras do que existe, fazemos isto na visão de Orixás, mas existem linhas de Umbanda que desconhecem o que seja Orixá, são menos Umbanda?

Não, são outras visões possíveis do que seja Umbanda, mas para nós da Escola de Mirim seria errado dizer a Umbanda a Luz de Orixá por conta de alguns não serem assim ? Claro que não, somos diversos...

O momento em que os congressos existiram foi de afirmação da Umbanda como religião, havia a necessidade de lutar pelo direito de existir, mas para estes grupos que tinham evidentes semelhanças éticas e se congregaram podiam responder por sí, não havia a possibilidade de faze-lo por outros, o momento histórico era outro, e afirmo categoricamente que isto se diferenciava por questões éticas, tão delicadas hoje quanto foi naquela época de se questionar, mas que diante de tanta ignorancia do que era Umbanda, esta ou aquela, o movimento Umbandista ou a intensionaliodade dos planos superiores, tornou-se imperativo uma firme condução dentro do que foi ditado como diretrizes da Escola de Mirim ou da linha de Zélio.

Se outros grupos na época não tiveram força suficiente para se expressarem ou mesmo de se agruparem o fizeram posteriormente, o quadro atual é de absoluta pulverização de diversas formas expressivas e de fundamentação ética diversa, não havendo hoje prevalência alguma de um a linha de Umbanda sobre a outra, o que sinceramente acho mais verdadeiro e saldável.

Esta questão é muito polêmica e talvéz seja mais hoje do que foi na época, pois muito embora hoje se tenha a clara dimensão da Umbanda como um movimento de muitas vertentes e linhas diversas existe a marca de uma distinção ética que é hoje idêntica a de 70 anos atrás, uns entenderão como características da identidade dos grupos, outros verão como preconceito, mas é certo que existe um abismo ético entre estes grupos, não uma ética melhor ou pior, são diferentes apenas.

(...)

Entendo perfeitamente o que está falando e sei que isto pode ter alguma relevância para outros grupos, terem se sentido segregados algum dia, houveram muitos excessos mas achar que isto se fazia por querer afastar-se das raizes africanas é simplismo, e os que se sentiram segregados viram desta forma por serem a minoria da época, uma minoria que não tinha organização ou força de expressão política, isto não é certo ou errado, não é bom ou ruim, simplismente foi assim.

É indiscutível que as corentes de médiuns e assistentes que iam aos terreiros iam em maior número nas casa ligadas à Escola do Caboclo Mirim e do Caboclo 7 Encruzilhadas, tempos depois aparece Tancredo e surge a organização do Omolokô e uma nova distribuição de coisas se dá, o que eu acredito ter tornado a Umbanda realmente multipla e um prenúncio real do que se tornou em nossos dias.

A questão que levanto sempre, quando se fala de um possivel absurdo que tentaram fazer nos congressos dos idos de 40, é que é impossível se dar o olhar de hoje à aquele tempo e julgar como nos dias de hoje aqueles tempos, isto é absurdo existe um hiato claro não só de tempo mas de entendimento, sem falar que a própria Umbanda evoluiu e mais: somente hoje com o advento da internet se está dando a conhecer realmente.

Reclama-se de uma visão facciosa do mundo e da religião, mas se dermos ao trabalho de ler o que falava nas outras corrente também veremos muito disto, e é uma verdade existe muito material escrito e gravado pois somente estes se deram a faze-lo, até porque podiam faze-lo, a estas linhas pertenciam como disse muitos políticos, artistas, gente de influência e formadores de opinião da época, sem dúvida estas correntes atrairam mais a atenção da classe média, mas também atrairam o povo, afinal a TEM fica à poucos metros dos Morros da Mangueira e Sampaio no Rio de Janeiro e os milhares que enchiam as sessões óbviamente não eram em sua mioria letrados ou gentes de posses, pelo contrário eram pessoas muito humildes que enchiam as calçadas em filas intermináveis chegando às portas do que é hoje a Policlinica da UERJ ou as imediações da Estação do Riachuelo do lado oposto.

Teria este verdadeiro fenômeno social e religioso sido um movimento de elites? O milagre que se via na TEM era menor do que em outro canto milagroso?

O que havia naquela época é o mesmo que existe hoje diferenças do ponto de vista ético, falo isto dentro da visão da Escola de Mirim, qualquer um que siga esta escola hoje, e eu me incluo nisto tem a clara visão desta diferença e das razões do que digo, mais ainda se conhecer um pouco de captação ou de medição de campos.

Mas mesmo assim é visível além de nossas diferenças a evidente irmandade de nossas linhas, muito embora diversas e por vezes conflitantes nas formas e motivações, somos todos frutos do mesmo movimento criador, repetirei uma frase recorrente em meu discurso:




Tudo é Umbanda, somos múltiplos, nossa religião nos é dada por Entes
muito maiores do que qq um de nós pode conceber, feita a nos municiar de
instrumentos para auxilia-los nos trabalhos que desde sempre fizeram
para a evolução da Humanidade, da própria Vida e do planeta, cada um com
sua capacidade e entendimento, portanto em algum lugar uns se
utilizarão de um tipo específico de ritual e em outro lugar isto não
terá lugar ou será necessário, porém tudo é Umbanda, a Umbanda é um
movimento de muitos e não a manifestação unilateral de uma filosofia,
personalidade ou revelação.
Somos múltiplos, muitos e muitas vezes aparentemente nos movemos em direções opostas, mas tudo isto é Umbanda.


O que eu acredito ser uma mudança capital é a consciência, que ainda está se formando, não somente nos filhos da linha de Zélio ou de Mirim mas sim da maioria dos umbandistas de todas as linhas, é saber que a Umbanda é um movimento, está em movimento e em permanente evolução, que não somos o que fomos e amanhã seremos ainda mais diferentes, mas também que o que estamos fazendo aq na internet, nos sites, fóruns e debates virtuais é nos aproximar e evoluir para uma identidade una, mesmo na diversidade, e isto sim deve ser laureado e defendido a todo custo pois isto é o verdadeiro espírito de nossa Umbanda. 

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