terça-feira, 1 de setembro de 2009

Cartas

Carta a Etiene Salles

Etiene,

A uns três dias atrás eu estava no msn com a nossa amiga do RBU, Michelle, conversando sobre estas coisas, ela estava profundamente perturbada com tudo isso, me questionou, muito polidamente é verdade, sobre minhas posições e eu lhe disse que realmente pesei por demais em minhas palavras e na forma de expor minhas idéias.
Comecei na RBU observando as postagens de Sandra, que me agradaram bastante, principalmente pois já estou muito cansado de só ouvir a mesma lenga lenga sobre exús, pombas-giras, das maravilhas desta ou daquela entidade, que usa esta ou aquela guia, esta ou aquela cor de paramento, e não é nada disso que busco nem na Umbanda nem no que pesquisar dela, o que me interessa são aspectos da religião expostos de forma clara e objetiva como você o faz e como, da maneira dela, ela também faz.
Sem perceber, fui preconceituoso não sobre as pessoas e seus ritos e formas de manifestação religiosa, fui preconceituoso com a própria religião.
Eu explico. A Umbanda não é uma religião feita pelo homem para o homem, como a maioria esmagadora das religiões por aí, por este ponto de vista poderíamos nos dizer espiritualistas, nossa religião foi criada para nós com o objetivo de nos instrumentar para cumprirmos um papel mais direto nos trabalhos que nossos irmãos espirituais sempre desempenharam do outro lado, por entidades desencarnadas guiadas por uma vontade muito maior do que tudo que possamos imaginar, se não pela vontade do Criador como conseqüência direta dela.
Somos dela servidores, mesmo levando em consideração a diferença de nossos ritos nosso objetivo é o mesmo, e é esse o ponto de meus questionamentos pessoais, não a diferença de ritos.
Fui vítima de mim mesmo, foquei no particular e esqueci o movimento do todo, em um determinado momento, quando digitava uma resposta a vc em um tópico da RBU, vei-me a lembrança de uma sessão de passes e descarrego em meu terreiro onde eu sou médium de banco, Bojá, ou se quiser médium de descarga. Neste dia, durante os trabalhos faltou luz em um momento crucial e perigoso dos trabalhos, e como não temos por hábito utilizar velas em nossos rituais, não havia nada que pudesse iluminar os trabalhos até que alguém tomasse de um carro e fosse ao comércio mais próximo compra-las. Mas também não era possível parar os processos, haviam uns 10 campos de trabalho abertos e pelo menos mais uns 50 assistentes aguardando atendimento, não costumamos ter muitos, mas em certas épocas cresce o movimento.
O velho de meu PDS pediu atenção e cuidado a todos para que não houvessem acidentes, só tínhamos a luz da lua, neste momento eu continuei meu serviço totalmente voltado para minha visão interna, e aí eu fui agraciado de ver verdadeiramente o que fazíamos, cada carga que retirava de um assistente era encaminhada e como as almas necessitadas eram conduzidas para a aldeia do velho para tratamento.
Uma beira de rio ao pé de uma montanha, uma aldeia caiçara assentada na areia, com casas de madeira simples pintadas de branco com detalhes azuis com todas as portas abertas, acho que nem haviam portas só os caixonetes, uma fogueira quente no centro, a cada necessitado que resgatávamos se chegava outro irmão para auxiliar e aquece-los, limpar uma espécie de gelatina esverdeada com cheiro de maresia que lhes cobria por completo os corpos nus ou em farrapos, eles sentiam muito frio e se comportavam como náufragos ou afogados em choque, enquanto falavam palavras de conforto e carinho, sem perder tempo mergulhavamos na escuridão das matas do entorno e assim voltava para tratar mais um, assim foi com todos até que as luzes foram restabelecidas e tivesse os sentidos voltados à realidade física.
Aí acordei, sou apenas parte pequenina de um trabalho muito maior, se meu trabalho é necessário, também é o daqueles irmãos auxiliares, dos outros que por certo continuariam os tratamentos dos irmão "resgatados", cada um conforme o que pode e está capacitado, segundo o que aprenderam ou são dotados, tudo tem o seu lugar, ninguém é melhor que ninguém e se vemos uma realidade através da janela que nos permite nossas mentes, devemos ter a consciência de não serem as únicas janelas ou paisagens possíveis.
Sou muito pequeno e imperfeito, muito orgulhoso e por vezes arrogante, e frequentemente tenho que parar e refletir e mudar minhas atitudes e pontos de vista, sou nestas horas confrontado com outar máxima do Caboclo Mirim:

"Viver a indiferença construtiva da própria existência"

Verá, meu amigo, que eu passarei a fazer minhas postagens de forma mais cuidadosa e que vc pouco mais verá minha presença na RBU, por cuidado com a premissa acima e por considerar que os tópicos de comunidades Umbandistas estejam voltados mais para outros médiuns de outras visões.
Satisfeito por contar com sua amizade e atenção,
te desejando força e perseverança na missão que abraçou,
votos de prosperidade e paz.

Edgar

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